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Chuvas alteram paisagens e perspectivas nas regiões tabagistas

  • Cristina Fragata
  • 25 de dez. de 2015
  • 3 min de leitura

Produção de tabaco deve diminuir 25% em função dos temporais que atingiram o estado



A primavera no Rio Grande do Sul começou acumulando prejuízos para os produtores de tabaco. Desde o início dos grandes volumes, agricultores enfrentam dificuldades para lidar com os ventos fortes, o granizo e o excesso de umidade nas lavouras. Do centro ao norte do estado, plantações inteiras de fumo foram devastadas pelas pedras de gelo. Segundo a Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), apenas no mês de outubro, a produção de cerca de 20 mil propriedades foi comprometida pelas tempestades.

As folhas murchas e quebradas não eram o que Teresa dos Santos tinha em mente quando iniciou o plantio em sua propriedade. A agricultora de 46 anos, que cultiva fumo desde 1999, não vê mais vantagem na cultura. “Os últimos anos têm sido muito duros e o tempo não tem ajudado. Ano que vem, quero substituir o fumo por milho”, desabafa.

Passado o período mais intenso de temporais, a preocupação é com o que sobrou da lavoura. Além de Teresa, outros produtores de Fontoura Xavier, no noroeste rio-grandense, temem que o retorno das chuvas lave o solo, levando o que sobrou das plantações. “Mesmo que não sejam tão fortes quanto as de antes, pelo tipo de terreno, podemos perder o que sobrou até dezembro”, explica Dorvalino Vieira, que também é fumicultor. Na região, o relevo predominantemente íngrime facilita a formação de valetas. Mesmo com a diminuição do volume total de água, a intensidade esporádica de precipitação pode acabar com o pouco que sobrou das plantações.

As consequências financeiras devem se concretizar em dívidas para março de 2016, quando a colheita deve ser finalizada. Os dados da Afubra indicam que 14 mil plantações foram atingidas até o final do mês de outubro, um recorde nos últimos 40 anos, segundo a entidade. Comparados aos da safra anterior, os números representam 192% a mais de prejuízo. Os maiores estragos foram registrados na depressão central do estado, representado por cidades como Santa Cruz do Sul, Venâncio Aires e Cachoeira do Sul.


Rigidez na classificação do fumo diminui o retorno para produtores


Além das difíceis condições de produção, os fumicultores enfrentam as fortes exigências do mercado sobre a qualidade do produto. Com oferta maior que a demanda, a indústria restringe a compra à Instrução Normativa nº 10, que estabelece uma classificação para a comercialização do tabaco no mercado interno. Segundo a Afubra, o valor repassado aos agricultores deve sofrer uma queda de até 30%.

Apesar de responsáveis por cerca de 10% do tabaco mundial, os produtores gaúchos também devem ser afetados pela concorrência do mercado internacional. Junto com os Estados Unidos e Zimbabwe, o Brasil compõe o trio que oferece o tabaco de melhor qualidade no mundo. Na África, um trabalhador recebe dez vezes menos do que nas lavouras brasileiras, deixando o preço do tabaco africano muito competitivo. O fumo norte-americano, por outro lado, conta com alto investimento do governo, revertido em volume de produção. A concorrência desleal com estes países faz com que a competitividade da safra de 2015 seja ainda mais baixa, tornando este ano difícil para os produtores do Rio Grande do Sul.


Cuidados com a saúde


Segundo a Emater, os períodos de chuva e a umidade também devem ser motivo de alerta para os fumicultores por questões de saúde. Para quem trabalha na lavoura, a doença da folha verde do tabaco é um risco, que pode ser evitado com o uso de luvas, chapéus, calças e botas. "O agricultor deve trabalhar na lavoura em dias secos e se não for possível, proteger a pele do contato com as plantas", alerta Jair dos Santos, técnico da Emater.

Caso não seja possível adiar o trabalho para dias mais secos, os produtores podem utilizar roupas especiais, desenvolvidas especialmente para o manuseio do produto nestas condições. A vestimenta leve e impermeável foi desenvolvida por especialistas em segurança no trabalho e pode ser encontrada nas cooperativas de produtores de tabaco em todo o Rio Grande do Sul.

Neste período, o contato das folhas úmidas com a pele deve ser evitado, assim como a exposição nas primeiras e nas últimas horas do dia, quando há presença de orvalho. A doença é resultado da absorção de nicotina, substância presente no fumo, pela pele, causando dores de cabeça, vertigem, náusea, fraqueza e cólica abdominal. Se ocorrer o surgimento dos sintomas, o produtor deve interromper as atividades junto à lavoura, lavar bem a pele, mantendo-se hidratado e em repouso. Se os sintomas persistirem, é indispensável buscar atendimento médico.

O diagnóstico é realizado por profissionais da área da saúde, com base no histórico do trabalhador sobre a exposição ao cultivo do tabaco. Por meio de um simples exame de urina, os níveis de contitina, marcador que denuncia a quantidade de nicotina absorvida pela organismo. Se o trabalhador for exposto de forma aguda e contínua, pode desenvolver doenças pulmonares, problemas cardiovasculares e abortos, no caso das mulheres.


 
 
 

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