
Cultura POPular
CULTURA

Anderson Fonseca
O mercado da cultura nerd sofreu mudanças profundas nos últimos anos. O que antes era visto como um nicho especifico, hoje é o responsável por grande parte do lucro dos estúdios de cinema e das produtoras de conteúdos audiovisuais. As adaptações de histórias em quadrinhos (HQs) em filmes e seriados para a televisão explodiram nos últimos cinco anos. As novas tecnologias afastaram os amantes de Star Wars, super-heróis e literatura fantástica do estereótipo de inabilidade social para colocá-los como figuras que ditam tendências e orientam o mercado da cultura pop.
De olho na possibilidade de aumentar o faturamento, muitas empresas estão apostando em produtos, eventos e lojas do setor em Porto Alegre. A capital já consta em vários rankings de cidades que mais compram livros, quadrinhos e jogos ligados à cultura nerd. De acordo com o último levantamento da Amazon, divulgado no final de 2014, Porto Alegre é a sexta cidade do Brasil que mais consome este tipo de conteúdo, ficando à frente de São Paulo e Rio de Janeiro.
Este dado vai ao encontro da procura crescente dos gaúchos por eventos que reúnem cosplays, pessoas que se vestem como algum de seus personagens favoritos, workshops e palestrantes internacionais. De 2010 a 2015 houve um aumento de mais de 150% no número de participantes nos dois maiores encontros do estado. A ComicCON RS, que começou sendo realizada em escolas de Porto Alegre, passou de 2.000 visitantes na primeira edição para mais de 5.000 no último ano. O idealizador da ComicCon RS, Émerson Vasconcelos, disse que ainda não consegue mensurar a importância da sua criação para o cenário estadual ou municipal.
- Ainda me assusta que um projeto tão pessoal meu, pensado para ser um elo entre o público gaúcho e o mercado de quadrinhos, tenha uma relevância crescente no cenário. Isso só é possível porque realmente há um interesse muito forte aqui. Em nenhum momento busquei transformar meu evento em um dos maiores da cidade, do estado ou do país, mas isso foi consequência da procura do público.
Já o AnimeXtreme, terceira maior feira multitemática do país, teve mais de 20 mil participantes nos três dias do evento este ano. Um dos criadores do encontro, Darcy Filho, ressaltou que as atrações foram escolhidas com base no que o público pedia através dos canais de comunicação da produtora responsável pelo projeto.
- O mercado aqui no Sul está bem aquecido, principalmente em Porto Alegre, por ser mais fácil para os apreciadores dos quadrinhos e filmes encontrarem o que procuram. Fomos atrás do contato direto com as pessoas. Queríamos saber qual era o real desejo deles. O retorno foi que era necessário um evento maior do que os existentes até então. Assim surgiu o AnimeXtreme, que já está indo para sua 24ª edição.
Da mesma forma, os cosplayers encontram maneiras diferentes e criativas para construir suas fantasias. Este é o caso de Marcelo Campos, cosplay de Dracule Mihawk, da série One Piece. Ele viajou mais de 330 km para participar de um destes eventos.
- Vim lá de Rio Grande com este barco. Tive que trazer num caminhão, mas vale a pena. Queria ganhar a competição de melhor cosplay. Construí ele com a ajuda de uns amigos, umas madeiras que tinha paradas em casa e garrafas pet. Tem gente que compra a fantasia já pronta, eu prefiro fazer. Mesmo não tendo vencido o desfile, é muito mais gratificante quando elogiam meu cosplay e foi tudo fruto do meu trabalho.
Aqueles que preferem jogos de tabuleiro, RPGs e games também encontram espaços dedicados em vários lugares na Capital. Todos os shoppings da cidade contam com ao menos uma loja para suprir esta demanda. O Beco Diagonal, loja inaugurada no início deste ano na Zona Norte, é totalmente inspirada na série Harry Potter. Além de vender artigos para todos os gostos, ela promove também campeonatos dos mais diversos. O proprietário do espaço, Felipe Ohlweiler, conta que há desde combates com naves de Star Wars a batalhas que podem durar mais de 12 horas no jogo de cartas Magic.
- Pensamos num lugar que pudesse servir como ponto de encontro para quem gosta de cards e RPGs. De fevereiro, quando abrimos a loja, até hoje, já passou gente aqui que nunca imaginamos. Aquele velho estereótipo de geek e nerd não existe mais. Vem desde idosos que se interessam, sim, por vários itens até crianças que são fissuradas pelo Harry Potter e Senhor dos Anéis.
Existe até uma opção para os nerds baladeiros. O publicitário Tiago Faccio criou a festa itinerante Woodoo Lounge Party. Ela mistura games, música e toda a nostalgia dos anos 90 em um só ambiente. Pode não parecer trabalho, mas no mundo nerd isso é vida profissional.
- Acho que isso diferencia nosso público. Não trabalhamos por simples imposição, mas sim porque sentimos satisfação naquilo que fazemos, nos divertimos e, no meio disso, tem um trabalho. É mais que business, é uma filosofia de vida.
Os que preferem as compras eletrônicas podem fazer isso através da criação de outro porto-alegrense. Alezi Lino Goulart é a figura por trás do Nerd Universe, um dos maiores sites de vendas de artigos nerds do país. Sua loja virtual faturou mais de R$ 2 milhões no ano passado.
- Grande parte do nosso fluxo de visitas vem do centro do país. Mas, proporcionalmente ao número de habitantes, o Rio Grande do Sul é o que gera mais lucro pra gente. Comecei com a loja porque, por também me considerar nerd, sentia falta de algo assim. Os gaúchos receberam bem a ideia. Meus colegas e amigos aprovaram de início e já desde nosso primeiro ano de operação está sendo um sucesso.
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Diversidade na cena cultural

Peças de teatro com recursos de acessibilidade ganham força em Porto Alegre com espetáculos que utilizam audiodescrição e tradução em Libras
Letícia Bay
Como uma forma de inclusão e valorização da diversidade na cena cultural de Porto Alegre, as companhias de teatro estão investindo cada vez mais em peças com recursos de acessibilidade, como por exemplo, interpretação em Libras (linguagem de sinais) e audiodescrição, quando os atores narram o que se passa em cena.
Segundo os últimos dados do Observatório da Cidade de Porto Alegre (Observa Poa), atualmente existem mais de 300 mil pessoas com algum tipo de deficiência em Porto Alegre, o que representa quase mais de 20% da população, o que torna importante facilitar o acesso aos diversos meios culturais e socioeducativos. Das deficiências investigadas, a visual é a que apresenta um valor mais expressivo, com 17,73% dos casos. Já os com deficiência auditiva representam 5,73% dos casos.
As companhias responsáveis pela produção cultural da Capital buscam contribuir cada vez mais para que esses grupos possam participar das atividades artísticas e educativas. É o que tem ocorrido com frequência nos palcos da cidade.
O grupo Signatores, que atua há cinco anos, trabalha só com atores deficientes auditivos. A equipe já recebeu diversos prêmios, entre eles o Concurso Décio Freitas da Secretaria Municipal de Cultura de Porto Alegre. Recentemente apresentou o espetáculo Alice no País das Maravilhas, no Centro Histórico Cultural Santa Casa. A peça é apresentada para surdos, com acessibilidade aos ouvintes.
A diretora da peça Adriana Somacal, explica que o objetivo é produzir um teatro que seja acessível para todos os públicos, seja com deficiência ou não. “Usamos este modelo desde a primeira peça porque o importante é fazer teatro para todas as pessoas interessadas, por isso fazemos as narrações além da linguagem de libras”, diz. A Signatores tem como proposta colocar os artistas surdos como principais autores da produção artística.
Além das adaptações, a instituição também tenta fugir de estereótipos e padrões de beleza comuns dessas narrativas, ao colocar uma atriz negra, ao invés de loira de olhos claros, para interpretar a Alice.
Já na atração É Proibido Miar, da MA Companhia – Teatro, Dança e Assemelhados, os atores utilizaram esses recursos na própria dramaturgia. Os artistas descrevem o que acontece em cena e realizam a interpretação em Libras enquanto atuam.
A peça, que é uma adaptação do livro de Pedro Bandeira, de mesmo título, é a primeira produção da companhia. A história contada na encenação tem como tema o respeito ás diferenças. Juliana Kersting, que atua no espetáculo, teve a ideia de fazer a adaptação. Ela conta a narrativa da peça fez com que pensasse em colocar o conceito de diversidade também na interpretação. “Li o livro É Proibido Miar, de Pedro Bandeira, quando tinha oito anos e fiquei com a história do cachorrinho Bingo guardada na minha memória”, lembra.
A atriz tem um irmão com paralisia cerebral, o que fez com que estivesse atenta às causas de inclusão. “Eu trouxe a minha ânsia de falar sobre as diferenças e a vontade de ver todos os tipos de pessoas reunidas em uma mesma plateia e assistindo a um objeto artístico que não precisasse de auxílio exterior a obra”, pondera.
Diferente do grupo Signatores, os artistas da MA Companhia não têm deficiência auditiva, por isso tiveram um processo especial de preparação para as encenações, com o auxílio de uma audiodescritora, uma facilitadora em Libras e psicopedagoga, especializada em educação para surdos.
Quando a peça estava praticamente pronta, realizaram um ensaio aberto, onde foram convidados consultores que fizeram observações e apontamentos de pontos positivos e negativos do espetáculo. “Com relação às Libras, gravamos o ensaio e levamos para o interprete Camilo Darsie, que nos deu seu feedback e propôs ajustes na linguagem dos sinais”, lembra.
Ainda segundo Kersting,apesar das adaptações o público ainda é formado na sua maioria por pessoas ouvintes e videntes. “Acredito que pelo fato de existirem poucos espetáculos preparados para receber a todos, as pessoas cegas, as surdas, as com necessidades especiais e seus familiares ainda se sentem sem estímulo para assistir teatro ou consumir um produto artístico”, avalia.
Segundo a atriz, o uso de audiodescrição permite ainda que pessoas com problemas cognitivos (com Síndrome de Down, Asperger, autismo, dislexia, sequelas de AVCs, problemas neurológicos, etc), possam se beneficiar das atrações. Com a utilização dos sinais, pessoas não oralizadas, porém que escutam, podem vir a aprender alguns sinais para se comunicar.
A artista completa dizendo que a deficiência não está nas pessoas, mas no ambiente, na informação e nas atitudes que não estão preparadas para a diversidade, com as adaptações nas apresentações a equipe está acolhendo um público que na maioria das vezes fica a margem dessas atividades.
Outras produções com sessões adaptadas ocorreram com Inimigos de Classe, onde forma distribuídos fones de ouvido para audiodescrição, no clássico Tangos&Tragédias, também com audiodescrição e recentemente Sobre anjos & grilos – o universo de Mario Quintana, com audiodescrição e tradução para Libras.
Confira abaixo um pouco do espetáculo:

Turismo criativo: Bem além da Selfie
Visitantes tornam-se nativos em modalidade pioneira na capital
Pedro Abdala
O setor de turismo cresce cada vez mais no Brasil e no mundo. Recordes são batidos com um registro adicional de 52 milhões de pessoas viajando pelo globo, segundo a Organização Mundial do Turismo. Com isso, muitas portas abrem-se tanto no campo dos negócios quanto para os viajantes.
Com tantas pessoas em idas e vindas ao redor do mundo, o perfil dos turistas também mudou. Os viajantes não querem apenas conhecer os principais pontos turísticos. Eles desejam ir mais a fundo, vivenciar experiências diferenciadas e mergulhar na cultura local. Chegar em Florença e ter uma aula de degustação de vinho; conhecer na prática a arte da capoeira, em Salvador; realizar um verdadeiro tour gastronômico pelo centro de São Paulo; ou, até aprender a afiar facas com um legítimo gaúcho. Essas são algumas das infinitas possibilidades de incrementar os roteiros turísticos, além de voltar com uma bagagem cultural maior e mais profunda.
É exatamente esta a proposta do “Turismo Criativo”, tendência que já é comum no Exterior, em países como Estados Unidos, França e Tailândia, e começa a despontar aqui no Brasil. Baseado em um programa inovador que visa oferecer aos turistas oficinas e interação com a cultura viva da cidade e as tradições do povo gaúcho, Porto Alegre é a pioneira do Turismo Criativo. O primeiro do gênero organizado no Brasil e que oferece aos visitantes experiências de aprendizagem novas e singulares, de conteúdo local vinculado ao universo da cultura, da tradição, das artes e do ambiente efervescente da metrópole que é o portão de entrada da cultura gaúcha.
É o exemplo da Oficina Criativa que ocorreu no The Best Jump, em 22 de outubro, na Sociedade Hípica Porto Alegrense, Zona Sul: “O som de uma faca sendo afiada parece ter despertado a memória ancestral e o imaginário dos presentes. Pode parecer exagero, mas é o que acontece durante as oficinas”, conforme diz o cuteleiro Leandro Riva, professor convidado pela Secretaria Municipal de Turismo de Porto Alegre e que ensina aos alunos inscritos a técnica de afiação de facas em pedras de afiar. Seja da mais áspera e comum, àquelas que permitem o refinamento da afiação das lâminas. Bastou começar a exposição das facas que Milton João Agnes, 33 anos e técnico em T.I. se aproximou. Com curiosidade e a convite do cuteleiro Leandro, ele decidiu experimentar. Logo, o som que é produzido da faca sobre a pedra começou a atrair mais gente. “Fiquei curioso, porque costumo afiar minhas facas na pedra e não fica muito bom, agora aprendi uma técnica nova em que o fio fica muito melhor”, garantiu Agnes.
Como Funciona?
Quem quer propor qualquer tipo de atividade relacionada ao Turismo Criativo precisa ir no site: www.portoalegrecriativa.info e preencher o formulário que consta na aba “propor atividade”. Após aprovada, a atividade estará exposta no site para a escolha de quem se interessar.
Depois de escolher as oficinas e atividades que deseja realizar, as datas e horários, é só fazer contato diretamente com os realizadores das oficinas e atividades, por e-mail ou telefone, para agendar a participação. Rápido e simples.
O servidor da Secretaria de Cultura da capital, Augusto Constantino, também acompanha tudo, já que ele é o responsável pelas atualizações dos programas e publicações de matérias no site Porto Alegre Criativa:
“Esta nova modalidade de turismo faz parte de várias estratégias da secretaria para tentar fortalecer o setor. São linhas diferentes daquelas tradicionais referentes às viagens de lazer. O turismo criativo é composto de vivências, interagindo com a população local. É baseado emee proporcionar que os visitantes tenham novas experiências de aprendizagem, cursos, workshops e outras atividades como tivemos nos últimos dois anos de uma forma bem sucedida. Um bom exemplo foi o realizado dentro do Acampamento Farroupilha, com atividades focadas para o tradicionalismo gaúcho e que contou com a participação tanto de turistas, como de gaúchos interessados em aprender um pouco mais sobre a própria cultura“, afirmou Constantino.
Aos poucos essa nova modalidade vai tomando forma, apesar de ainda estar na etapa da “invenção da roda”, como o próprio Constantino se refere. Segundo ele, ainda não há a possibilidade de fazer uma ação mais forte em todas as áreas. “Mas o que é notório é que há um apelo bastante forte na questão do tradicionalismo gaúcho, pois é diferente, típica da cidade e do Estado e diz respeito ao nosso folclore”, completa o servidor público. Aparentemente é isto o que as pessoas querem ver, as coisas únicas de um lugar, as suas singularidades e costumes. E agora, isto está disponível para qualquer turista, aqui na capital.
O som da Cidade Baixa

Laís Escher
Da música autoral à reinterpretação. Essas são duas das subdivisões da cena musical do bairro Cidade Baixa, de Porto Alegre. Quem está no front desta iniciativa diz que o campo é composto, majoritariamente, por festas somente com DJs e shows covers. Nayane Bragança, produtora cultural, afirma que os chamados "dias nobres" da agenda dos bares, que são as sextas os sábados, dificilmente têm programação para artistas com produção própria - com exceção de pouquíssimos estabelecimentos. “Apesar deste cenário, há espaço para o autoral. Alguns produtores se mobilizam para tornar isso possível e, desta forma, abrir caminho para um maior espaço às bandas e eventos desta classificação”, coloca.
O “Autoral Social Clube” é um exemplo de articulação que proporciona espaço para quem quer colocar a produção dos artistas - nem tão conhecidos - nos palcos. O cantor e compositor Tiago Rubens, que idealizador do evento, estava com uma data agendada em um bar, propôs ao dono trazer outros parceiros músicos para tocar e fazer uma pequena apresentação com cada um deles. Bibiana Petek, participante da ação, classifica a iniciativa como uma amostra que nasceu sem delimitações e projetos. “Eu colhi muitos frutos com o Autoral (Social Clube). Todo mundo que faz parte colheu, na verdade. Seja pelo crescimento pessoal de ter a oportunidade de experimentar e ver como funcionam certas coisas com o público ou pelo crescimento profissional de parceria e crescimento ao lado dos outros compositores”, considera.
A Cattarse, de Viamão, marcou a história do evento “Rock n’ Bira”. Ela foi a primeira banda que trouxe as próprias composições a uma produção essencialmente cover.
“Parece que agora o público está voltando a dar mais atenção para a música autoral. Nos anos 80 e 90, isso já acontecia. Mas ainda assim a Cidade Baixa está meio “morta”, até mesmo as festas. Antigamente, se via a galera até 5h da manhã circulando pelas ruas do bairro nas festas e bares. Hoje, às 3h da manhã, já está tudo vazio”, diz o guitarrista Igor van der Laan.
À frente da organização da “Stereo Produtora”, Nayane conta que as apresentações autorais ainda são eventos isolados. “Há muito mais espaço para bandas covers, pois o público de Porto Alegre ainda vai com mais frequência a esse tipo de show, mas o espaço para artistas autorais está se abrindo gradualmente, por meio de iniciativas singulares de alguns produtores”, avalia.
Outras formas de apresentação – que não acontecem somente no bairro boêmio de Porto Alegre - proporcionam ao público e aos músicos experiências diferentes. Bibiana diz que ela e uns colegas realizaram alguns ensaios abertos. “Quando estávamos ensaiando e divulgando o show do centenário do Túlio Piva, íamos para a praça tocar. Preferíamos isso porque assim não tinha ninguém nos roubando – coisa que muitos bares fazem em algumas situações”, relata.
A Cidade Baixa tem sediado diversos eventos de rua. Um exemplo é o “Me Gusta”, organizado pela Revista J’adore, que se apresenta como uma festa, bazar e festival de arte, moda e música. O objetivo dele é revitalizar os espaços urbanos. E a convocação do público é feita essencialmente através do Facebook. O Conjunto Bluegrass Porto Alegrense é um exemplo de banda que oscila entre a rua e as casas de shows. Embora tenha se firmado no ambiente público com a máxima “A rua é de quem está nela”, o grupo também realiza apresentações em bares. Conforme o contrabaixista José Baronio, existe espaço para os mais diversos públicos trazerem bons músicos e sonoridades diferentes. “Por bastante espaço, Porto Alegre acaba sendo palco para artistas de outros lugares que não tem como mostrar o trabalho nas suas cidades”, explica.
Outro ponto que é unânime entre as bandas e produtores é que a estrutura dos bares não oferece os melhores equipamentos. Já é um hábito dos profissionais levar boa parte da aparelhagem necessária. De acordo com Nayane, atualmente há uma carência de casas para shows. “Dos estabelecimentos que estão na ativa, poucos têm um suporte bom para os artistas, em termos de infraestrutura, equipamento, acústica, profissionais técnicos de som bem capacitados e divulgação”, avalia. Igor van der Laan, da Cattarse, relata que muitas vezes o próprio profissional do áudio contratado pelo bar é resistente ao trabalhar com o formato proposto pela banda. Isso pode comprometer a sonoridade do artista. “Você tem um equipamento que não é muito bom - embora existam alguns poucos bares que fogem desta realidade - e um responsável pelo som que não tem a mínima noção e não dá o suporte necessário. Isso acaba comprometendo a apresentação”, diz Van der Laan.
E, mesmo com tantos entraves, existem percepções positivas. Yuri van der Laan, baixista da Cattarse, fala que há respeito com o músico fora da capital. “O espaço que as outras cidades têm dado para o underground é muito significativo”, comemora.
Segundo a produtora Nayane Bragança, no underground local há uma certa resistência à profissionalização e padronização dos processos. Para ela, alguns músicos e produtores disseram que há uma ‘gourmetização’ do underground. “Penso que não é porque trabalhamos com música independente que não devemos profissionalizar os processos. Ao contrário, devemos trabalhar para cada vez mais aperfeiçoar os nossos eventos e as nossas bandas, a fim de ter processos de trabalho cada vez mais profissionais. E, caso isso signifique ‘gourmetizar’ o underground, que assim seja”, defende Nayane.
Contudo, mesmo com dificuldades, a cena da música autoral segue tentando se restabelecer. Produtoras e a força dos próprios músicos têm retirado artistas talentosos do underground para espaços onde todos possam escutar o que de novo está sendo produzido.
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